A tristeza de um filho!
A tristeza de um filho! | Temos que falar sobre isso
Por Teresa Ruas – 23 setembro 2015
Olá a todos os seguidores desse espaço,
Hoje resolvi compartilhar um post escrito em meu próprio blog- minha teoria na vida/teteruas.blogspot.com.br– e adaptado para esse espaço sobre alguns sentimentos difíceis que os nossos filhos podem sentir no dia a dia e, que tanto interferem na dinâmica familiar.
É fato que os valores sociais/culturais impostos em nossas relações afetivas ainda nos impõem que compreendamos a tristeza como algo negativo, um sentimento que deve ser combatido e que, muitas vezes, torna-se um meio para patologizarmos a própria vida, a conduta de nossos filhos e/ou as nossas, como mães e pais.
Porém, quando vejo que existem cineastas corajosos e valentes e que apresentam um belíssimo filme/projeto- divertida mente- / deixe seu filho ficar triste – para mostrar aos pais e às crianças que a tristeza, a raiva, a frustração são sentimentos que também podem/devem ser sentidos, elaborados, compreendidos e validados tal como a alegria e o êxito, um sopro de esperança atinge a minha alma de que é possível construirmos um mundo -para os nossos filhos- mais humano, mais real, mais igualitário, com menos culpa para os pais e menos patologias criadas pela cultura e, portanto, com outros valores.
Crianças PODEM sentir a tristeza e EXPERIMENTAR frustrações em seu dia a dia e, em suas relações afetivas. Ao contrário do que os valores atuais tecem, esses sentimentos/experiências fazem parte do desenvolvimento e da formação psíquica de qualquer indivíduo, ou pelo menos, deveriam fazer parte.
É impossível não permitirmos e/ou controlarmos toda e qualquer situação/ contexto para que os nossos filhos, nunca, se sintam tristes ou frustrados; por mais que seja muito difícil sentirmos a tristeza de um filho e nos culparmos por isso. O fato é que a culpa que sentimos poderia dar mais lugar ao acolhimento afetivo. Principalmente, se nós mães/pais tivéssemos mais espaços de suporte afetivo para elaborarmos e significarmos as nossas culpas diárias. Afinal de contas, quando uma mãe nasce, a culpa e o medo de errar na educação dos filhos, também nascem, não é mesmo?
E quando afirmo sobre o processo de acolhida, não estou, em momento algum, afirmando que a culpa/ o medo parental não poderão existir. Porém, quando começamos a perceber que esses sentimentos difíceis podem ser transformados e/ou darem lugar a outras formas de manejo com os nossos filhos, podemos nos sentir mais seguros em demonstrar a eles que também choramos, que também nos sentimos tristes, que também não gostamos de algo e que também sentimos raiva.
Atualmente, tenho refletido que a sinceridade dos sentimentos que borbulham em nossa alma e em nosso coração pode ser o primeiro grande passo para o acolhimento afetivo e efetivo de nossos filhos. Pois eles irão perceber, desde pequeninos, que as pessoas afetivamente significativas a eles também choram, também sentem frustrações e também se entristecem. Podem crescer percebendo que a tristeza também faz parte do existir e que não transforma as pessoas/ os pais em melhores ou piores, mais fortes, ou mais fracos. Ou seja, da mesma forma que existem os sorrisos, a alegria e a extrema felicidade, também existem as lágrimas, os soluços, o choro e as adaptações cotidianas.
Assim… filhos e pais, adultos e crianças se entristecem! E sobre a ótica da criança, não compreendo como negar um sentimento fidedigno e que pulsa no peito, por exemplo, quando uma criança perde um jogo importante, quando um amigo a agride, quando enfrenta dificuldades em suas relações afetivas, quando perde o sono diante de pesadelos, quando percebe a tristeza de seus pais, quando vivem situações difíceis como uma mudança brusca de rotina, a separação, a perda, uma doença e/ou outros fatores estressores. Mesmo em situações quando os nossos filhos são pequeninos, por exemplo, quando precisam retirar a chupeta, quando necessitam despedir dos pais diante de viagens de trabalho, quando sentem saudade dos avós, adaptação na escola e, assim, por diante…
Portanto, será que é certo negar ou não validar os sentimentos reais de desconforto que uma criança sente e/ou que os pais sentem na relação com ela porque a sociedade afirma que não é normal, saudável ou bom sentir alguma frustração ou tristeza? Sentimentos não são patologia. São a expressão mais fidedigna de uma alma e de um coração vivo.
É lógico que as experiências e os sentimentos difíceis não elaborados, não significados, não dialogados, não expressos, não compreendidos podem se transformar, sim, em uma patologia. Mas patologia, como uma depressão- uma tristeza profunda, real e que afeta, de forma significativa, o dia a dia do ser humano-, é muito diferente do que possibilitar que os nossos filhos expressem a tristeza em suas palavras, atividades e brincadeiras. E que esse sentimento seja validado e que nós pais permitamos momentos nobres de elaboração das sensações difíceis, como os diálogos francos, como os abraços verdadeiros, as brincadeiras entre pais e filhos e, até mesmo, por meio do estabelecimento de limites.
Todas essas nossas possíveis ações são muito diferentes de negar, de fugir e de não permitir que os nossos filhos chorem e compreendam o que significa a tristeza, as frustrações e as dificuldades humanas.
Como dito antes, a expressão da tristeza humana não significa, necessariamente, uma patologia. Pode ser, sim, um meio para expressarmos a nossa existência, a nossa potência e desenvolvermos sentimentos tão importantes como a esperança, a paciência, a perseverança e a resiliência. Crianças mais resilientes, serão adultos mais resilientes e, com certeza, perceberão mais facilmente que as relações humanas são constituídas por diferentes sensações, sentimentos, sabores, valores e cores. Tudo isso é chamado de VIDA! Viver não pode ser fictício, precisa ser um processo real.
Finalizo por aqui e espero que nós pais saibamos validar mais os momentos de tristeza expressos no clã familiar e, que saibamos distinguir a diferença entre o processo natural da vida e uma possível patologia/problema a ser investigado e acompanhado por um especialista. E que saibamos amar e respeitar os nossos filhos, as nossas necessidades e as nossas ‘fraquezas’, com a certeza de que o afeto é o meio mais potente em qualquer relação humana e toda a sua gama de sentimentos e sensações.
Um grande abraço, até o próximo post, Teresa Ruas